quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

.a song for bereavement.

(fotografia por V. Caldeira)

(às 02:00 do dia 18 de agosto de 2008 eu escrevi)

a ti, meu amor, que me afastaste da morte à qual eu chamava casa e me mostraste uma outra morte que não uma inteiramente lastimável.

todos os espectros são nossos, quando estendemos as mãos antecedentes a um beijo angustiado. é ter a exactidão das horas ainda por passar – os dias longos a morrerem doentios, a palidez das noites desabitadas. nada é relevante. a fome é muito vaga dentro de mim. a sede é fútil. respirar é inevitável – são coisas que faço sem querer, porque preferia que estagnasse tudo até voltar a ver-te chegar; esperar; o que quer que seja que fazes quando te vejo. entretanto sou eu a existir repetidamente de silêncio em meu redor – convenço-me de que aquele silêncio é o teu, só para não chorar outra vez. é só para não ter de chorar outra vez, como ontem – como antes de ontem; como em todos os dias em que a minha vida se torna num reflexo de ti. um reflexo da suma de todas as despedidas em que os meus olhos querem gritar muito alto mas que, em vez disso, abraçam-te e segredam-te – até breve, meu amor. Mas nada é breve. Tudo é uma distância incalculável e odiosa porque de um momento para o outro somos feitos de nada. e se num momento tenho os teus lábios perto dos meus dedos, no outro tenho-te num beijo ao longe que vai ser o último durante tanto tempo. dizem que nunca ninguém morreu verdadeiramente de saudade, mas alguém se esqueceu de que a saudade é uma morte constante. é morrer tão constantemente que os olhos passam a ser poços da alma, – quem os designou janelas deveria morrer de saudade – a transportarem as angústias, suspensas pelos nervos das órbitas, equilibradas, perplexas até se esvaziarem rosto abaixo, que é quando o coração sofre a desmedida metamorfose que dói até ser o dia em que me lanço sobre a tua boca e não penso na dor que vou sentir quando for o momento de mais um – até breve, meu amor. até breve. – e os teus olhos num fitar tão magoado. e a minha expressão tão descontrolada, a obrigar o sorriso, a fingir que vai ser breve, que vai ser já amanhã, que vai ser já mais logo, daqui a um bocadinho. só um bocadinho. até breve. até breve. até amanhã. meu amor, até já.
V. Caldeira (2008)

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